sexta-feira, 25 de maio de 2012

Fala o Pioneiro

Como é o mês de aniversário de Palmas-TO, resolvi publicar essa poesia do  meu pai, em homenagem a todos os pioneiros que contribuíram de alguma forma para que nossa cidade tenha se tornado o que é hoje.



FALA O PIONEIRO

Se disseres:
Eu vi Palmas nascer,
dizes bem.
Mas eu te digo:
Eu VI Palmas nascer.
E é melhor o meu dizer.
Se disseres:
Eu fiz Palmas crescer,
dizes bem.
Mas eu te digo:
Eu FIZ Palmas crescer.
E é melhor o meu dizer.
O meu dizer é bem melhor                    
pois na massa destes prédios,
na geometria destas ruas
tem gotas do meu pranto,
tem manchas do meu sangue,
tem cheiro do meu suor.                        
O meu dizer é muito bom
pois na noite interminável
só silêncio e solidão
eu esquecia meu cansaço
num colchonete no chão.
O meu dizer tem mais valor                   
pois se perguntarem o que é
desconforto e privação
respondo sem hesitação:
Nestas coisas sou doutor!                     
O meu dizer é bom demais
porque aprendi como se faz
desabrochar uma cidade
lá no meio  do cerrado
como desabrocha a flor
no sossego de um quintal
com o húmus do trabalho
com o adubo da união
com a rega do amor
e um punhado de ideal.
O meu  dizer é bom de fato                   
porque o que fiz o fiz por gosto,
não por ganância ou vaidade,
para que Palmas tenha o rosto
das muitas raças do Brasil,
de norte a sul, de leste a oeste.
O melhor dizer e este:
Por  ti, Palmas,
eu faria tudo outra vez.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

PLENITUDE




Deixa o tempo correr,
não corras.
Esquece o relógio
nem meças o tempo pelo avançar das sombras.
A vida não são minutos nem horas,
não é manhã nem tarde,
não é dia nem noite,
não é ontem nem amanhã.


A vida é agora.
Se amarras a vida a um tiquetaque
ela perde sua parte melhor:
o dom de poder parar,
de deixar a sombra correr,
de ver a banda passar.

O dom de ficar sozinho
à disposição de si mesmo.
O dom de sentir-se consciência,
de sentir-se mente e espírito,
de sentir-se sujeito e agente.

O dom de ser sólido
em meio ao que se desmancha,
de mover-se sem se mover,
a salvo dos vaivéns das ideologias,
das calúnias, dos elogios,
dos casuísmos, das chantagens,
das ilusões, das miragens.

Deixa o tempo correr,
não corras.
Dono do tempo
terás tempo para sentir,
terás tempo para ver,
terás tempo para julgar,
terás tempo para agir.
Terás tempo, sobretudo,
para ser
e perceber que o mundo ao teu redor
se move sem ti,
e que tu, longe de ti mesmo,
não passas de um joguete
das forças externas:
não te moves, és movido;
não navegas, andas à deriva;
não vives, vegetas.
Fica contigo , fica em ti,
e terás vida em plenitude.
(Fidêncio Bogo, livro "Buritis ao Vento")