sábado, 14 de novembro de 2009

Cidadão Tocantinense


O professor, escritor e poeta Fidêncio Bogo foi homenageado com o Título de Cidadão Tocantinense pela Assembléia Legislativa, quarta-feira, 4. A entrega do título ocorreu durante sessão solene em homenagem a professores e médicos, na Casa de Leis. A deferência ao professor é resultado de projeto da deputada Josi Nunes pela importante contribuição dada à educação pelo professor, que só no Tocantins somam mais de 30 anos.

Durante a sessão que homenageou também os professores José Hildasi e Margarida Lemos Gonçalves, a deputada Josi Nunes foi enfática ao justificar a homenagem. “Fidêncio Bogo dedicou sua rica formação acadêmica a paixão de ensinar. O contato com ele é sinal de aprendizagem sempre”.

Ao fazer uso da palavra na tribuna o professor fez uma retrospectiva dos caminhos que o levaram do sacerdócio ao magistério. Confira o discurso.


CIDADÃO TOCANTINENSE

Ao saber, meses atrás, do título que me seria conferido, é claro que meu ego subiu às alturas e meu coração acelerou as pulsações. Fiquei feliz, porque o Tocantins, antes Norte de Goiás, foi o Estado não só no qual vivi mais tempo, mas, também, em que passei o tempo mãos produtivo da minha vida. Se eu merecia ou não este título, a decisão coube a quem o indicou. São mais de 33 anos de trabalho como educador e, além disso, o trabalho mais fecundo, devido a experiência adquirida em outros Estados e, embora curta, em Roma e em viagens por outros países da Europa.

Tudo que fiz de bom na vida o devo, sobretudo, ao seminário, onde entrei aos 11 anos e saí aos 24, quando fui ordenado sacerdote, levando o que aprendi por vários Estados. Vivi 16 anos em Santa Catarina, 18 em São Paulo, três em Roraima, cinco no Paraná, três em Roma, e 33 na terra do meu coração, o Tocantins.

No seminário, em Rio do Oeste, a rotina diária de segunda a sexta-feira era: às seis e meia da manhã levantar, depois a missa e meia hora de meditação, o café da manhã, aulas, recreio de uma hora após o almoço, estudo à tarde, jantar, recreio, oração e cama, lá pelas nove horas. Nas quintas-feiras à tarde, trabalho: cuidar do pomar e do parreiral, fazer limpeza ao redor do seminário. No intervalo do trabalho, lanche e, depois, a leitura de um romance feita pelo Diretor por meia hora. Nessas ocasiões, eu corria e me sentava ao lado dele. Um dia ele me disse: - Pelo jeito, um dia você vai ser escritor. Foi profecia?

O melhor da minha vida sacerdotal vivi-o em Roraima, de 1962 a 1964, como diretor do ginásio Euclídes da Cunha e em viagens para o interior, nos povoados e fazendas, celebrando missas, visitando as famílias e contemplando lindas paisagens. Passei uma semana na Maloca da Raposa, convivendo com as famílias dos índios macuxis, celebrando missas, procurando detectar possíveis problemas para buscar possíveis soluções. Um paraíso.
Quando retornei de Roma, meu sonho era voltar para Roraima, mas meus superiores me apagaram o sonho. Se tivesse ido para lá, acho que estaria ainda exercendo o sacerdócio. Mas fazer o que? Deus escreve direito por linhas tortas.

Permaneci em São Paulo por dois anos e, após receber a dispensa pontifícia conheci minha esposa em Santa Catarina, um grandioso presente de Deus, seguindo em seguida para o Paraná, onde celebramos o casamento em Apucarana e fomos para Jandaia do Sul. Lá, na faculdade local, uma colega de minha esposa falou dos buritizais do Tocantins, então Norte de Goiás. Buritis que eu conhecera em Roraima e pelos quais me apaixonei.

Em dezembro de 1976, partimos de fusca para conhecer Natividade, TO. Se o local nos agradasse iríamos para Mato Grosso do Sul. A cidade, na época Norte de Goiás, era uma miséria, o fundo do quintal de Goiás. Éramos os dois únicos professores com curso superior. Sofremos, mas valeu a pena.

Dos trabalhos realizados, o que considero mais gratificante é o Projeto Cuca – Curso de Habilitação e Capacitação de Professores Leigos de Palmas, realizado em 1990. Essa turminha do CUCA tem uma cuca que anima. Vai sacudir a poeira e dar a volta por cima. Formaram-se 93. A maioria deles fez depois, curso superior e pós-graduação.

Aposentei-me pela segunda vez em 2001, aos 70 anos de idade. Por pouco não entrei em depressão. Dona aposentadoria, para muitos sonho faceiro, para mim foi um violento ponta-pé no traseiro. Por sorte minha, a então secretária de Estado da Educação, Dorinha, me contratou como comissionado até maio de 2008, cargo do qual pedi demissão por motivo de doença. Em breve deixarei a chácara e voltarei a morar na cidade. Aí pretendo aproveitar parte do tempo livre para participar de trabalhos nas escolas. Obrigado a todos os que me ajudaram a chegar aqui, em especial à professora nota dez Margarida Lemos Gonçalves, minha colega por vários anos no Conselho Estadual de Educação.

O escritor Júnio Batista, um dos alunos do projeto Cuca, de cujos livros costumo fazer a revisão, disse-me que pediu à deputada Josi Nunes que me indicasse para o título. Obrigado! Devo um agradecimento sobretudo à deputada Josi Nunes, aos deputados que aprovaram o projeto que me indicou para o quarto título de cidadão tocantinense, sendo os demais: Nativitano, Portuense e Palmense. Agradeço ao Sr. Governador ??? pela homologação do projeto. Deus abençoe o seu trabalho, Senhor Governador, deputada Josi Nunes e demais deputados, e tenham êxito na sua carreira.

E claro que o mérito do título não é só meu. Reparto-o com todos os que me ajudaram a chegar até aqui. Deus seja louvado! Amém.


Palmas, 4/11/2009

*Crédito da Foto: Íses de Oliveira/AL