sexta-feira, 20 de maio de 2011

Poema para Dois

Enfim, chegais!
Chamados pelo amor,
o seguistes por caminhos floridos.
Segui-lo-eis ainda,
por veredas suaves,
por atalhos escarpados.
Segui-lo-eis, engrinaldados,
ou coroados de espinhos,
- porque não cabe a vós traçar o caminho do amor.


Parti, portanto,
juntos no amor!


O amor é vossa glória
e vossa humilhação.
Como a chuva de verão,
ele vos fecunda,
vos faz brotar e frondejar vistosos.
Mas para que a copa não seja apenas folhas,
o amor vos poda com a lâmina da dor,
e assim vos enflorais
e vos cobris de fruto.


O amor é doação
e renúncia.


Quando dais,
que a dádiva se solte de vossas mãos
mas também de vosso coração,
para que um dia não a queiras de volta
e não busqueis comprar com ela
uma união
cujas raízes não estão no dar,
mas em quem dá e em quem recebe.


O amor é união
e diversidade.


Sede unidos
como as cordas que vibram uníssonas
mas precisam estar separadas
para poder vibrar.
Sede como as colunas do templo
que se erguem separadas
para que juntas possam sustentá-lo.
Sede como as margens do rio,
sempre voltadas uma para outra,
contendo as mesmas águas,
levando-as para o mesmo oceano,
mas conservando-se distanciadas
para que entre elas
as águas possam fluir.


Não importa qual a nuvem
que derrama a chuva
O que importa é a água
que fecunda o solo.
Não importa qual a lâmina
que poda os ramos,
O que importa
é a seiva que matiza as flores
e redoira os frutos.
Não importa quais os dedos
que ferem as cordas.
O que importa
é a melodia que delas se desprende.
Não importa
qual a mão que ergue as colunas.
O que importa
é que elas sustentam o edifício.
Não importa
qual o rumo que as margens seguem.
O que importa
é que o rio chegue ao mar.


Vivei na mesma altura,
mas não vos niveleis.
Uni-vos profundamente,
mas não vos amarreis.
Caminhai pela mesma estrada,
mas cada qual com seus próprios pés.
Sede fiéis um ao outro,
mas cada qual não traia a si mesmo.
Carregai o fardo juntos,
mas cada qual se disponha a carregá-lo sozinho.


Vivei em dueto,
mas cada qual se prepare para o solo...
...o solo daquele dia
no qual o amor
que vos chamou
que voz conduziu
que vos fecundou
que vos podou
que vos floresceu
que vos frutificou
vos colherá como uvas maduras
espremerá o sumo de vossa existência mortal
e vos derramará
como vinho escolhido
no coração de Deus.

3 comentários:

  1. Logo que eu comecei a namorar meu marido, meu pai deu um livro de presente e dedicou a ele essa.
    Claro que morri de vergonha, me senti em uma bandeja. Vocês verão o motivo ao ler. Coisas de Fidêncio Bogo ...

    Madianita

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  2. Um porma bem interessante.
    Gostei bastante

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  3. Poema bonito e um tanto melancólico

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