não
corras.
Esquece
o relógio
nem
meças o tempo pelo avançar das sombras.
A
vida não são minutos nem horas,
não
é manhã nem tarde,
não
é dia nem noite,
não
é ontem nem amanhã.
A
vida é agora.
Se
amarras a vida a um tiquetaque
ela
perde sua parte melhor:
o
dom de poder parar,
de
deixar a sombra correr,
de
ver a banda passar.
O
dom de ficar sozinho
à
disposição de si mesmo.
O
dom de sentir-se consciência,
de
sentir-se mente e espírito,
de
sentir-se sujeito e agente.
O
dom de ser sólido
em
meio ao que se desmancha,
de
mover-se sem se mover,
a
salvo dos vaivéns das ideologias,
das
calúnias, dos elogios,
dos
casuísmos, das chantagens,
das
ilusões, das miragens.
Deixa
o tempo correr,
não
corras.
Dono
do tempo
terás
tempo para sentir,
terás
tempo para ver,
terás
tempo para julgar,
terás
tempo para agir.
Terás
tempo, sobretudo,
para
ser
e
perceber que o mundo ao teu redor
se
move sem ti,
e
que tu, longe de ti mesmo,
não
passas de um joguete
das
forças externas:
não
te moves, és movido;
não
navegas, andas à deriva;
não
vives, vegetas.
Fica
contigo , fica
em ti,
e
terás vida em plenitude.
(Fidêncio Bogo, livro "Buritis ao Vento")
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