quarta-feira, 2 de maio de 2012

PLENITUDE




Deixa o tempo correr,
não corras.
Esquece o relógio
nem meças o tempo pelo avançar das sombras.
A vida não são minutos nem horas,
não é manhã nem tarde,
não é dia nem noite,
não é ontem nem amanhã.


A vida é agora.
Se amarras a vida a um tiquetaque
ela perde sua parte melhor:
o dom de poder parar,
de deixar a sombra correr,
de ver a banda passar.

O dom de ficar sozinho
à disposição de si mesmo.
O dom de sentir-se consciência,
de sentir-se mente e espírito,
de sentir-se sujeito e agente.

O dom de ser sólido
em meio ao que se desmancha,
de mover-se sem se mover,
a salvo dos vaivéns das ideologias,
das calúnias, dos elogios,
dos casuísmos, das chantagens,
das ilusões, das miragens.

Deixa o tempo correr,
não corras.
Dono do tempo
terás tempo para sentir,
terás tempo para ver,
terás tempo para julgar,
terás tempo para agir.
Terás tempo, sobretudo,
para ser
e perceber que o mundo ao teu redor
se move sem ti,
e que tu, longe de ti mesmo,
não passas de um joguete
das forças externas:
não te moves, és movido;
não navegas, andas à deriva;
não vives, vegetas.
Fica contigo , fica em ti,
e terás vida em plenitude.
(Fidêncio Bogo, livro "Buritis ao Vento")

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